Analisando
o filme ora apresentado e tomando por base as informações e o conhecimento
histórico adquirido sobre o desenvolvimento e expansão do comércio no Brasil,
fato este, impulsionado e muito pelo notório Visconde de Mauá, há de se
observar o quanto são traiçoeiras as relações formadas entre pessoas na busca insaciável
pelo objeto fim das relações empresariais: o lucro.
Dominado
por uma elite retrógada e essencialmente agrícola, o Brasil, ou melhor, suas
lideranças, não aceitavam muito bem o crescimento e o pensamento visionário por
parte de um ambicioso jovem que tinha como sonho ver seu país crescer. Irineu
Evangelista de Souza, o Barão e posteriormente Visconde de Mauá, foi um homem
fora de seu tempo, que desde sua infância já demonstrara imensa sensibilidade e
agressividade nos que dizia respeito aos negócios, características essas
essenciais a um bom empresário.
Há
de se observar, o que tardiamente foi conhecido por Irineu, que no ramo
empresarial não existem amigos e não se misturam sonhos com dinheiro, o que se
busca é o lucro, sendo este, o que prevalece, acima até dos ideais e de
sentimentos exclusivamente humanos como a compaixão e a compreensão, esta,
muitas vezes exigida dos credores que ávidos pelo montante que lhe são devidos,
atropelam toda e qualquer possibilidade de negociação.
Assim,
mesmo ainda não regulamentada, há de se evidenciar que várias das empresas
constituídas pelo Visconde de Mauá são consideradas hoje, pelo Direito
Empresarial, como sociedades anônimas formadas por capital investido por
acionistas, como por exemplo, o Banco do Brasil. Neste ramo também ficou
claramente evidenciada a especulação financeira, no momento em que, após
desvalorização do dinheiro brasileiro seu banco teve um enorme prejuízo, porém,
após fantástica manobra realizada com a compra de todo dinheiro desvalorizado,
este faltou ao comércio brasileiro, tendo seu valor subido, sendo agora
determinado pelo banco em questão, o que lhe rendeu grande lucro e prejuízo aos
investidores ingleses do outro lado do mundo, onde, realizando uma analogia
direcionada ao campo econômico, há de se evidenciar o que os físicos chamam de
“Lei da Ação e Reação”, onde, uma decisão (ação) tomada aqui no Brasil
influenciou o mercado empresarial e investidores na Inglaterra, levando estes,
a retaliar (reação) a manobra executada suspendendo assim seus projetos no
Brasil o que posteriormente ajudaria a alavancar a falência de Irineu
Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá.
Arrisco
ainda dizer que, com base no observado, que o Visconde, ávido na busca pelo
lucro, agiu algumas vezes movido pela paixão, o que no ramo empresarial é
bastante perigoso, como por exemplo, no momento em que investiu
“irresponsavelmente” uma imensa soma em dinheiro na construção da primeira
ferrovia brasileira no negócio com os ingleses, tendo este investimento, sido colocado
em evidência pelo seu sócio inglês como um dos motivos de sua falência,
denominando ainda o Visconde como um sonhador, característica esta, que não
condiz com dinheiro. Outro exemplo de má administração, a meu ver, até
temerária, ocorreu quando não satisfeito com a negativa de seu sócio inglês em
investir em um banco no Uruguai, considerado como um negócio de risco devido a
atual situação do país, Irineu Evangelista de Souza assumiu sozinho o risco e
realizou tal investimento, mesmo sabendo que poderia perder todo o capital
investido, o que de fato ocorreu posteriormente.
Assim,
há de se concluir que o Visconde de Mauá como citado anteriormente foi um homem
além de seu tempo, extremamente visionário e movido muitas das vezes pela ideia
de fazer o Brasil crescer, enriquecendo juntamente com seu país amado. Levou o
país a um crescimento ainda desconhecido, para um Brasil extremamente agrário e
atrasado, na maioria das vezes insensível aos seus propósitos, porém, com a
mesma facilidade que este excepcional empresário ganhou dinheiro, ele também o
perdeu, sendo levado à falência e respondendo diante seus credores
principalmente, com seu patrimônio, sanção atualmente aplicada no caso de
comprovada administração temerária ou fraudulenta, sendo este modelo de
administrar, não aplicado ao caso do Visconde, porém sobre aquele, em certas
ocasiões não há de se dizer o mesmo. Opinião esta, deste humilde
acadêmico.
Rodrigo Lourenço Arruda